terça-feira, 15 de março de 2016

A LISTA DE FURNAS

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A Gente Nunca Sabe O Lugar Certo De Colocar O Desejo
 
Tinha acordado achando que não estava dormindo, mas lembrei de um sonho que tivera exatamente antes desse despertar. Era um sonho muito estranho, pois reunia na sua mensagem simbólica vários assuntos do cotidiano e fora dele. Sonhei que um grupo de leões estava tendo um início de briga com um grupo de outros felinos, provavelmente de tigres. Mas entre os tigres haviam tigrinhos que estavam em perigo de serem devorados pelos leões, apesar dos pais tigres por perto. Os tigres reagiram contra os leões para salvar os filhotes. De repente, aparecem alguns antílopes que ficaram à mercê dos leões e dos tigres. Senti que eles seriam devorados também e temi pela vida deles. Era um jogo em que o perigo surgia a cada momento sem parar e onde todos pareciam vacilar. Do nada, então, surge um homem árabe, usando um turbante e uma túnica e se imiscui na briga.  Nesse momento, ele joga um pano imenso, saído da sua indumentária e preso a ela. Sobre esse pano ele traz toda a cena de ferocidade entre os animais, do chão para bem alto no espaço, lá onde estava a sua amada presa num grande recinto, iluminado por enormes janelas, como se fosse uma vitrine de uma astronave. Ela estava só no recinto, que parecia de todo estéril e prisão. Trouxe para você ver, disse para ela. Mas eu preferia estar lá em baixo vendo, ela respondeu.  O sonho é simbólico e mítico e fala sobre a prisão do desejo num ambiente estéril, enquanto feras soltas se digladiam lá fora. O desejo precisava se exteriorizar, ou quem sabe se ferocizar, para se tornar desejo vivo e quente, pulsátil e vibrante. Estava ali refém dos medos e das feras, preso por algum gênio da lâmpada mágica que habitava entre as (es)feras e o tinha como refém. Mas não entro na interpretação mais fundamente para não a tornar pessoal. Fiquei matutando sobre esse sonho e sobre o nome da mulher do sonho. Era um nome árabe, tipo Nahirizhyn, que perdi com o passar das horas. Em seguida, veio-me à cabeça um outro sonho onde um velho afundava num pântano e pronunciava uma frase de quatro ou mais palavras em inglês. Quando despertei, entendi tudo que ele dissera, mas depois perdi completamente. Lembro-me que fiquei na dúvida sobre a última palavra pronunciada, alguma coisa entre thinkable, um neologismo para pensável,  ou likable, que fica por gostável.  A mensagem talvez fosse: estou afundando, mas valeu à pena. A gente nunca sabe o lugar certo de colocar o desejo, disse Caetano.

Ruy Penalva de Faria Neto

domingo, 27 de abril de 2014


Filosofando

A ética, ao meu ver, é genética. Vem codificada no DNA como uma necessidade genética do sucesso da propagação da espécie. Os genes aprenderam com a seleção natural que a ética era necessária para propagar a espécie e para diversificá-la. Para isso criou uma primeira barreira, o incesto, que não contribui com a diversificação genética e no longo prazo seria uma ameaça à diversidade humana. Por outro lado, para que houvesse uma grande diversidade genética os genes criaram o masculino e o feminino, dando a cada um metade da carga genética. Isso é essencial para a diversidade genética. Nem tudo se passa assim no reino animal, mas no gênero humano isso é fundamental, dado o caráter transformador desse gênero para o meio em que vive. Eu não acredito que o superego faça o trabalho sozinho na missão de controlar o que é certo e o que é errado na convivência humana. Não acredito. Por outro lado, hipotetizo, que o medo da morte, o instinto de vida, Eros, em oposição ao instinto de morte, Tanatos, seja determinante na construção da civilização, que é uma luta constante entre Eros e Tanatos. Sinto que certos criminosos perdem esse diferencial do valor da vida, por razões diversas, antes de decretar sua própria falência, seu ontocídio. Já é difícil, não natural e esquisito, o gênero humano usar o sexo por puro prazer, um uso transfigurado da verdadeira função sexual em animais, que é procriar. Mas, ao fazer sexo sem procriar, o homem cria uma esquizofrenia na sua função sexual filogenética. O sexo é do inconsciente do ponto de vista genético, mas o homem usa o sexo como uma função do consciente. Troca a reprodução pelo gozo (trade off) e com isso engana o inconsciente. Esse sexo consciente é difícil, elaborado, nostálgico, imagético, perverso e compensador. É difícil filosofar no Facebook. Acho que vou fazer uma canção.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

O Pequeno Barco do Theravada



O Pequeno Barco do Theravada 

venha se estiver seguro de si,
Pois não existe caminho de volta.
Nem mesmo existe um caminho.
A travessia é longa,
O barco é pequeno.
Não existe barco,
Nem existe travessia.
Nada existe no nada.
Venha perder o controle,
Superar o descontrole,
Existir para além do bem e do mal,
Do ser e do não ser,
Do etecetera e tal.
Dar as costas para a Morte,
E para a Vida também,
Mergulhar fundo no êxtase,
Saber o gosto que o êxtase tem.
Você nunca mais será o mesmo,
Você nunca mais nem mesmo será...
venha se estiver seguro de si.

2005

Ruy Penalva

Buda



Buda

- Mestre, eu queria saber como eu nasci?
- Sua história é longa meu filho, e a verdade se mistura com a ficção, o céu se mistura com a terra e o real se mistura com o imaginário. Ao longo do meu relato vou explicar-lhe como tudo se deu. Você veio da linhagem dos Budas (Budhavanmsa) e vinte e quatro Budas o precederam nos seus nascimentos (Jataka). O primeiro Buda da linhagem foi Dipankara, nesta época você não passava do brâmane Sumedha, quando, vivendo entre os ascetas, você tomou a decisão de um dia tornar-se um Buda. Dipankara, graças a onisciência própria dos Budas, deu-lhe a garantia que um dia você também viria a ser um Buda. Vinte e três Budas vieram ao mundo depois de Dipankara e ora você vinha ao mundo como um brâmane, ora como um rei, como um chefe tribal, e até mesmo como um leão ou como uma cobra você veio ao mundo, obedecendo ao eterno ciclo de mortes e renascimentos da transmigração das almas (Samsara). O Samsara (ciclo de mortes e renascimentos) é a causa do sofrimento e só se pode acabar com o sofrimento e suas causas quando se pára de renascer, quando se chega à iluminação (Bodhi), quando se atinge a extinção (Nirvana). Um Buda atinge a total extinção (Paranirvana). Você atingiu a grande e total extinção (Mahaparinirvana), coisa que só você pode conseguir por ter colocado para andar a roda do Dharma, a Darmacakra, (a roda da lei) e por ter descoberto as quatro grandes verdades. O Nirvana não é o céu, pois não existe um céu clássico no budismo, o Nirvana é a extinção, a cessação, o estado inefável, a experiência de imutabilidade, de suspensão de qualquer desejo, estado de libertação que só um Buda ou um Arhant (merecedor) podem atingir. O Arhant, mal comparando, é o santo católico, aquele que por merecimento atingiu a quarta etapa no caminho da libertação, que alcançou o Nirvana nesta vida e por isso também não mais renascerá, por absoluta falta de necessidade de renascer, só renasce quem ainda tem karma (causa e efeito) para cumprir.
Para entender a história de um Buda é preciso entender o que é um Bodhisattva (um ser a caminho da iluminação, um futuro Buda). Um ser para atingir o estado de Bodhisattva ele percorre muitas existências, pratica as dez renúncias sublimadas, que vêm a ser basicamente a doação, a caridade, a abnegação, a paciência, a veracidade, a renúncia, a prática moral, a magnanimidade, a equanimidade, a energia, sem falar na prática da meditação. Na sua penúltima existência um futuro Buda renasce no céu dos Deuses Tushita (os Calmos ou Satisfeitos) é aí, durante uma longa existência entre estes Deuses que ele decide, com o conhecimento que tem, a hora certa que deve descer ao mundo para a sua última existência, para sua iluminação final. Foi assim que aconteceu com o Bodhisattva Metteyya, o futuro Sidharta Gautama, o Buda histórico. O Bodhisattva Metteyya escolheu o clã dos Sakya para sua última existência terrena e para seus pais escolheu o rei Suddhodana e a bela rainha Mayadevi ou simplesmente Maya.  Feita a escolha, o Bodhisattva Metteyya comunicou aos Deuses Tushita sua decisão e pediu-lhe que o iluminassem com as 108 portas luminosas da Lei. O rei Suddhodana e a rainha Maya não tinham filhos e praticavam a castidade, pois um Buda tem que ter nascimento imaculado, embora algumas correntes budistas não refiram nem dêem importância a isto, mas isso faz parte da lenda do Buda histórico, como o fez de Jesus e de outros heróis. O rei e a rainha descendiam do brâmane Gautama e pertenciam à casta dos guerreiros.  Uma noite, durante um sonho, a rainha Maya vê um elefante branco penetrar o seu flanco direito. Contou seu sonho aos adivinhos da corte que interpretaram isto como a promessa de uma nascimento de um monarca universal (cakravartin), caso quisesse governar, ou de um Buda, (ser iluminado) caso renunciasse ao mundo. O poder temporal versus o poder divinal. O casal real morava em Kapilavastu, uma cidade da Índia a cerca de 190 km a oeste de Katmandu no Nepal. Dez meses após ter recebido essa concepção divina a rainha Mayadevi, querendo visitar seus pais (era costume indiano a mulheres terem filhos na casa dos pais), partiu da sua cidade com seu séqüito, acompanhada da sua irmã mais moça, Mahaprajapati. Após fazer uma parada no Jardim de Lumbini, um jardim de árvores Shala,  entre Devadaha e Kapilavastu, em pé, apoiada em uma destas árvores, ela dá à luz o Bodhisattva, que sai do seu flanco direito, por onde entrou, sem machucá-la. Quem primeiro aparou o Bodhisattva foram os Deuses Sakra e Brahma, de modo que nenhum humano o tocou antes dessas divindades do panteão hindu. O Bodhisattva então foi levantado por uma enorme flor de lótus que o ergueu e foi banhado por dois reis Naga (serpentes, símbolos da sapiência no budismo). Após seu nascimento o Bodhisattva deu sete passos em direção ao norte, fixou os pontos cardeais e proclamou: Como um leão, isento de temor e terror, que vencerá a doença e a morte. Neste momento toda a terra tremeu, o céu e o inferno celebraram o acontecimento, nesta mesma data nasceram sua futura esposa, seu escudeiro, seu cavalo e outros reis. É importante esta fixação dos quatro pontos cardeais, das quatro funções, essa caminhada em direção ao norte e a seguir em outras direções; voltaremos a discutir isso. Sete dias após o seu nascimento, sua mãe, a princesa Maya, morre, para renascer no céu dos deuses Tushita, como vimos o penúltimo nascimento de um ser que virá a ser futuramente iluminado na sua próxima existência terrena. Após a morte da rainha Maya, sua irmã, Mahaprajapati, torna-se a segunda esposa do rei Suddhodana, e criará o Bodhisattva (ser a caminho da iluminação) até que ele complete sete anos. Vejam a importância do número sete: ele deu sete passos, sua mãe morreu com sete dias e sua tia-mãe o cria até a idade de sete anos. Sobre o Sidharta ter falado logo que nasceu o Zen budista Daisetz Suzuki deu esta explicação: Toda criança fala isso quando nasce ao chorar. De fato, toda criança é potencialmente um Buda, porque despida da consciência dos sentidos que é a causa do sofrimento, acrescento eu, ainda que Freud tenha querido ver desejos sexuais desde a mais tenra infância, mas tenha negado a satisfação de todos estes desejos a sua filha Ana. Esta morte da rainha Mayadevi, após sete dias do nascimento do filho, tem para mim um duplo valor simbólico, primeiro premiá-la com a iluminação futura ao renascer entre os deuses Tushita, segundo evitar que a futura mãe de um Buda viesse a ser maculada sexualmente.
Depois do nascimento o Bodhisattva  (ele ainda não era um Buda, pois não tinha alcançado a iluminação) foi levado em meio a grande pompa, devidamente acompanhado pelos Deuses, a sua cidade Kapilavastu, onde no templo  da divindade Abhaya (sem medo) sua divindade protetora, vejam que ele disse ao nascer que ia vencer o medo. O rei
Suddhodana então lhe deu o nome de Siddhartha (aquele que atinge a prosperidade) Gautama, sendo Gautama o nome masculino de família, Gautami para o feminino em sânscrito. Os adivinhos então preparam seu horóscopo e descobrem nele as 32 marcas e 80 sinais secundários do homem eminente, estas marcas e sinais são adquiridos em existências anteriores por merecimento. Entre as principais marcas estão: 1. Pés bem assentados. 2. Rodas sob a planta dos pés. 3.Calcanhares grandes. 4. Dedos longos. 5. Mãos e pés macios e delicados. 6. As mãos e os pés cobertos por redes. 7. Os pés com tornozelos altos. 8. Braços longos com mãos tocando os joelhos na posição ereta. 9. O pênis embainhado. (sabe deus o que é isto) 11 e 12. Tez dourada com pele fina e lisa. 13. Os pelos um a um virados para direita. 14.Os pelos voltados para cima. 15. Os membros retilíneos de Brahman. 16. Sete protuberâncias (nas mão, nos pés, nos ombros e na ramificação do tronco). 18. Axilas preenchidas. 19. A rotundidade de uma figueira de bengala.  20. Ramificações do tronco regularmente arredondadas. 21. A finura superior do gosto. 22. Maxilar de leão (fruto de existência prévia como este animal) 23. 40 dentes (8 a mais) 24. Dentes iguais. 25. Dentes sem interstícios. 26. Dentes bem brancos.  27. A língua grande (no bom sentido). 28. A voz de Brahman (Brahman é o Deus superior, é informe, apenas energia, assume forma nos seus avatares).  29 e 30. Olhos muito negros e sobrancelhas de vaca. 31. Um tufo branco entre as sobrancelhas (presente na iconografia). 32. Cabeça protuberante (universal em todas as iconografias). Soma-se a esses 32 sinais mais 80 marcas, entre as quais grafismos na planta dos pés tipo roda, suástica, etc. Este sinais e marcas são muito importantes no budismo atual quando eles vão escolher os futuros budas utilizando-se do maior número possível destes sinais e marcas.

21/07/2005

Ruy Penalva de Faria Neto

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Do Viagra ao Capim Novo. Qual o Melhor?



Do Viagra ao Capim Novo. Qual o Melhor?

Na letra da música (não sei de quem é a autoria) Capim Novo, abaixo, Luiz Gonzaga diz que não existe droga nova para o velho problema e que o único remédio é capim novo. Vejam a letra:
Capim Novo (autor(es)?)
Nem ovo de codorna,
Catuaba ou tiborna     (Himatanthus obovatus – espécie de planta)
Não tem jeito não
Não tem jeito não
Amigo véio pra você
Tem jeito não
Esse negócio de dizer que
Droga nova
Muita gente diz que aprova
Mas a prática desmentiu
O doutor disse
Que o problema é psicológico
Não é nada fisiológico
Ele até me garantiu
Não se iluda amigo véio
Vai nessa não
Essa tal de droga nova
Nunca passa de ilusão

Certo mesmo é
Um ditado do povo:
Pra cavalo véio
O remédio é capim novo
Será? Sem dúvida que o capim novo ajuda (voltarei ao tema quando comentar sobre Elsimar Coutinho), mas tem hora que nem Capim Novo.

Quando Luiz Gonzaga morreu não sei bem se o Viagra (Sildenafil) já era comercializado, por isso não ficamos sabemos a opinião do véio Gonzagão sobre o produto. Mas que o troço funciona em qualquer capim isso não resta dúvida.

De há muito já se sabia que o óxido nítrico era um potente vasodilatador, mas tinha uma instabilidade química impressionante, durava poucos segundos sua ação. Enquanto a Pfizer testava esse remédio para hipertensão e angina do peito um dos efeitos colaterais (êta efeito bom retado) relatado, além de dor de cabeça, taquicardia, foi ereção peniana. Estudando seu mecanismo de ação a Pfizer descobriu que o remédio inibia a fosfodiestarese tipo 5, uma enzima que regula o fluxo de sangue para o pênis. E o que faz essa fosfodiesterase tipo 5? Ela inativa o óxido nítrico, o mais potente vasodilatador endógeno conhecido. Ora, se a gente anula essa enzima o nível local, ou a duração de efeito local desse ácido aumenta.  Por isso o Viagra e seus primos dão mais consistência a ereção masculina, porque disponibilizam mais ácido nítrico para dilatar os corpos cavernosos.  Mas é claro que isso é apenas parte do problema, pois todo mundo sabe que a ereção dessas drogas está longe de ser uma ereção 100% e outros fatores locais como incompetência das veias de manter o sangue, déficits arteriais, quedas hormonais, fatores psicológicos, falta de um bom capim interferem com a ereção masculina. Depois voltarei a tratar de descobertas de drogas feitas ao acaso enquanto se testava para um problema e ela fez efeito em outro.

Fica então a pergunta: Viagra ou Capim Novo? Os dois é a minha resposta. Les deux mês amis.


LF, 25/05/2009.

Ruy Penalva